Com base num estudo de Cristina Reis, da Price Waterhouse Coopers, referido pela edição do DN de 17.10.06, “os deficientes foram muito penalizados na proposta de Orçamento”.
De acordo com a simulação da consultora, “em alguns casos o agravamento pode chegar aos 12%.” .
Comentei que, a ser verdade, tal seria inaceitável, do ponto de vista de uma sociedade inclusiva e solidária, e fiz um apelo ao governo para, no caso de tal se confirmar, reconsiderar a sua posição.
O Primeiro Ministro respondeu crispadamente acusando-me de ter feito essa afirmação sem ler o Orçamento.
Teria acrescentado que não há qualquer agravamento da tributação mas uma preocupação de maior justiça fiscal, onerando os deficientes com rendimentos mais altos para beneficiar os de menores rendimentos.
É estranha a crispação do Primeiro Ministro em relação a um comentário e um apelo que lhe dirigi. Mais estranha é a sua concepção de uma justiça fiscal em que se tira a uns deficientes para dar a outros.
Não é esta a minha concepção, nem de justiça fiscal, nem de justiça social. Muito menos de uma política socialista.
O grande critério da justiça redistributiva é o imposto sobre os rendimentos, que é universal.
É aí que o Estado vai buscar aos que têm mais para proteger os que têm menos. Os deficientes com mais rendimentos já pagam por essa via.
Aliás, o aumento de receitas obtidas através desta alteração nos benefícios fiscais é relativamente marginal.
O que me leva a interrogar se faz sentido pôr em causa, por tão pouco, um sector tão sensível. Havia com certeza outras formas de ir buscar a receita em falta.
O que não faz sentido é que, tanto na saúde, através das taxas moderadoras sobre internamentos e cirurgias, como relativamente a pensionistas e agora também a deficientes, se adoptem soluções que equivalem a uma dupla tributação ou a um agravamento da carga fiscal sobre esses sectores, já de si mais frágeis.
E menos sentido ainda faz, como escreveu o professor André Freire, no Público de 16.10.06, que “os detentores do capital tenham sido tão pouco chamados a participar nos esforços de reajustamento que afectam os restantes portugueses.” Isto sim, como disse o autor, “é incompreensível”. [Manuel Alegre, 18.10.2006]
19 outubro 2006
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