22 outubro 2006

Pobreza agrava-se no interior do distrito

Luís Henrique Oliveira
Jornal de Notícias
[22.10.2006]


A maioria dos trabalhadores da região a laborar na Galiza está empregada no sector da construção civil

Aumentam os casos de pobreza no Alto Minho, situações que se verificam, com maior incidência, em localidades do interior do distrito. A conclusão é do serviço de Viana do Castelo da Rede Europeia Anti-Pobreza, instituição particular de solidariedade social que concluiu, recentemente, um levantamento sobre a situação da região, trabalho participado por quatro dezenas de organismos.

Massa salarial baixa, aumento do desemprego e "fraco índice" de poder de compra, aliados a uma "continuada desertificação" do interior, constituem indicadores que, segundo Hélder Pena, técnico daquela estrutura, estão na origem de problema que "afecta uma cada vez maior fatia da população".

Como consequência, indicou que são cada vez mais os que procuram noutros lados o que não conseguem encontrar na terra que os viu nascer, apresentando-se, ultimamente, a vizinha Galiza como destino preferencial de muitos. "E os motivos estão à vista melhores salários e proximidade geográfica, permitindo a muitos trabalhadores um maior contacto com a família", evidenciou.

Pobreza extrema

Embora sem quantificar o número de agregados familiares da região atingidos pelo flagelo social, "sobrevivendo, nalguns casos, mesmo em situação de pobreza extrema", aquele responsável indicou ser este "o principal problema" comunicado pelos parceiros, distribuídos por todo o distrito.

Em resposta, a estrutura a que pertence defende um maior apoio a crianças, idosos e deficientes, reclamando a criação de mais estruturas. "Faltam equipamentos de apoio, e isso é notório em todo o distrito, principalmente, em localidades onde são mais necessárias", considerou.

Responsável pela marcha contra a pobreza, decorrida na passada terça-feira, em Caminha - iniciativa que juntou duas centenas de pessoas, na sua esmagadora maioria crianças -, a Rede Anti-Pobreza refere-se ao aumento do desemprego como problema que "pode vir, a curto prazo, a preocupar de sobremaneira alguns concelhos do interior".

Aludindo a situação que não é exclusiva do distrito, "mas nacional", Hélder Pena assinalou, ainda, que prevalece, no seio de algumas instituições da região, "determinada resistência à parceria", o que, segundo disse, "não configura nada de bom, podendo mesmo dificultar a resolução de problemas".

Ao afiançar que o trabalho do núcleo de Viana do Castelo não se esgota na investigação, abrangendo, também, a informação (aos parceiros, sobre programas de apoio nacionais e comunitários) e formação (especialmente, em áreas ligadas ao apoio a crianças e idosos, como a Geriatria), adiantou que, no próximo mês, a instituição promove, no auditório da Escola de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico, um fórum sobre a cidadania, iniciativa que servirá para "escutar quem vive ou viveu em situação de pobreza e exclusão, ou seja, para saber o que é ser pobre e o que é viver em exclusão, na primeira pessoa".

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