30 outubro 2006

Municípios despovoados querem quinhão dos milhões da Europa

Eduardo Pinto
Jornal de Notícias
30.10.2006



Despovoamento esconde-se atrás de postais ilustrados do mundo rural.

Cerca de 86% do território nacional tem baixa densidade populacional. São 2792 das 4228 freguesias do país, onde vive apenas 14% da população do país

Uma das razões porque está em marcha a criação de um movimento de municípios portugueses despovoados.

O objectivo é ganhar voz junto do poder central, numa altura em que se definem os projectos de investimento no âmbito do Quadro de Referência Estrátegica Nacional (QREN).

A prioridade do Governo, argumenta-se, vai para a competitividade do país, concentrada nas grandes metrópoles, mas os concelhos mais probres não querem ficar arredados do caminho dos milhões que Portugal vai receber entre 2007 e 2013. Não aceitam, sobretudo, servir apenas de escape para os fins-de-semana ou férias de quem vive nas cidades.

Depois de um primeiro encontro em Mértola, os municípios de Áreas Rurais de Baixa Densidade (ARBD) reuniram em Carrazeda de Ansiães.

Cientes de que não podem estar à espera de que alguém de fora os venha ajudar e do pouco peso que têm quando comparados com as grandes áreas urbanas do litoral, os autarcas dos municípios despovoados lutam por uma secção na Associação Nacional de Municípios Portugueses, que lhes sirva de trampolim para a mesa das negociações em Lisboa.

"É necessário que os municípios acordem, que sejam eles próprios a definir estratégias de competitividade ques lhes permita o desolvimento do seu território", avança o edil de Mértola, Jorge Valente, primeiro promotor do movimento.

É que o cenário não é risonho. Acrescenta que, face àquilo que são as perspectivas europeias e nacionais, os concelhos despovoados passarão a ser "territórios excluídos do processo de desenvolvimento".

O trabalho desenvolvido pelos presidentes de câmara aponta para propostas concretas e "alternativas" à situação actual.

Não se trata de um movimento reivindicativo nem de protesto, mas de ganhar força e encontrar caminhos específicos.

"Penso que o movimento vai tomar grande dimensão muito rapidamente", opina o edil de Carrazeda, Eugénio de Castro.

Os autarcas querem justificar a necessidade de investimento no interior com a resolução dos problemas no litoral. Ou seja, "por cada problema resolvido aqui, resolvem-se dois ou três nas áreas metropolitanas", atira Eugénio de Castro, exemplificando "Se criarem 10 empregos no interior, resolvem vários problemas sociais nas cidades do litoral".

O problema do despovoameno surge, invariavelmente, associado à criação de emprego, pois os investigadores estão convencidos que ninguém fica no interior por causa do património, ambiente, bons acessos ou qualidade de vida.

"As pessoas deslocam-se para onde há emprego", sublinha Luís Ramos, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Luís Ramos frisa mesmo que, neste momento, o principal objectivo deve passar por "conseguir manter a população que ainda permanece nos pequenos concelhos", pois a que já saiu dificilmente voltará.

A regionalizaçao é apontada como a solução. "É preciso que ela avance", nota Jorge Valente. "Os problemas não se resolvem com políticas da administração central, mas com uma intervenção mais regionalizada", preconiza.

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