01 fevereiro 2007

Ponte Eiffel transformou Darque em "península" há um ano

Ana Peixoto Fernandes
Jornal Público
01.02.2007


Encerramento da ponte obriga muitos moradores da margem esquerda do rio Lima que trabalham em Viana do Castelo a atravessar a pé a estrutura em obras

Fechada ao trânsito desde 1 de Fevereiro de 2006, devido a obras de reabilitação, a centenária Ponte Eiffel de Viana do Castelo não deixou, contudo, de ter serventia.

Mudaram-se os tempos, mudaram-se obrigatoriamente as vontades e os hábitos das pessoas que habitam a margem esquerda do rio Lima. Os que não prescindem do automóvel para aceder à cidade veêm-se obrigados a percorrer muitos quilómetros a mais para aceder à cidade. Os que deixam o veículo em casa dedicam-se agora às caminhadas e ao atravessamento da estrutura em obras para a outra margem em bicicleta ou motorizada.

A situação tem merecido a solidariedade dos autarcas locais, nomeadamente, da Câmara de Viana do Castelo, que ainda ontem aprovou "um voto de pesar pelos 365 dias de encerramento da ponte".

Até há um ano, a população de Darque, a freguesia mais afectada pela obra em curso, dispunha de duas entradas/saídas do local, mas com o fecho da travessia pela ponte - que com os seus quase 600 metros permitia uma ligação rápida à cidade de Viana - vive, agora, numa espécie de península rodeada de água por todos os lados menos por um, e de onde, para sair, é necessário percorrer (pela A28), pelo menos, mais do triplo dos quilómetros. Muitos são os que, por uma questão de poupança, trocam o automóvel por calçado mais cómodo e que, faça chuva, sol ou (muito) frio - como tem acontecido nas últimos semanas, atravessam a velha ponte todos os dias para ir trabalhar ou ir tratar dos seus assuntos.

"Com os transportes que temos, os horários e os preços, compensa-me vir a pé", justifica Ângelo Costa, de 33 anos. Este morador de Darque trabalha num gabinete de contabilidade, na cidade de Viana, e refere que, desde que a ponte entrou em obras, a sua vida "mudou muito".

"Tenho de me levantar mais cedo, pelo menos um quarto de hora para chegar a tempo ao emprego, e à saída igual. É complicado; às vezes trazia a milha filha para a deixar com os meus pais e agora não posso porque venho a pé", desabafa.

Obras obrigam a soluções alternativas

Passa pouco das 8h00 de uma manhã gélida e cinzenta em Viana do Castelo e este jovem não é único, que, munido de roupa até às orelhas, atravessa a ponte já despida do seu pavimento original. As obras iniciadas há um ano visam a remodelação e o alargamento do tabuleiro rodoviário.

Catarina Meira, de 29 anos, natural de Vila Nova de Anha, acaba de deixar a sua viatura junto ao topo sul da travessia para rumar a pé à cidade. "Faço isto todos os dias, de segunda-feira a sábado, de manhã e ao fim da tarde", afirma, explicando: "Assim evito fazer aquela volta tão grande, poupo gasolina e faço exercício físico".

Os 562 metros de comprimento da ponte metálica de Viana do Castelo transformaram-se numa espécie de pista para peões, motorizadas e bicicletas.

Isabel Cardoso, de 39 anos, moradora em Darque e trabalhadora dos serviços da Segurança Social da cidade de Viana, faz a pé o percurso desde sua casa até ao emprego para "poupar no gasóleo".

"São 12 quilómetros, quando antes era apenas um e meio", sublinha, brincando: "É uma questão de poupança, mas caminhar também faz bem".

Enquanto esta transeunte fala, passam várias motorizadas e um homem de bicicleta com uma mochila às costas.

Uma jovem mãe atravessa a ponte empurrando um carrinho de bebé, assim como uma outra, Diana Alheira, de 31 anos, que traz a sua filha de oito anos pela mão."Trabalho na sub-região de Saúde e desde Julho do ano passado que faço isto todos os dias. Trago a miúda comigo para a escolinha", refere, considerando que a situação "é aborrecida para os moradores, mas, desde que seja para melhorar, a gente está disposta a sacrificar-se".

Um caracol com o nome Lino vai ser apresentado hoje, logo de manhã, pela Comissão Política Concelhia do PSD de Viana do Castelo.

Para lembrar que a Ponte Eiffel sobre o rio Lima está fechada para obras há um ano. Com a iniciativa de carácter simbólico, dando ao referido caracol o nome do ministro das Obras Públicas, Mário Lino, o partido pretende criticar "a lentidão da tutela na resolução de um problema que afecta directa e indirectamente milhares de vianenses".

A centenária travessia sobre o rio Lima foi encerrada ao trânsito rodoviário, a 1 de Fevereiro de 2006, para obras de recuperação e alargamento do tabuleiro, que em princípio deveriam durar apenas seis meses, mas que, entretanto, viram o seu prazo de conclusão alargado até ao último trimestre de 2007.

Também hoje, uma designada Comissão de Utentes da Ponte Eiffel vai realizar um "buzinão" de protesto na cidade contra o "arrastar" das obras.

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